quarta-feira, 23 de julho de 2014

"...largo tudo, se a gente de casar domingo!"

E assim... Meio clichê, meio história de amor eterno, meio confuso, meio sem noção, eu descobri o amor, e descobri que pecado é aquilo que faz mal pra mim, que posso ser feliz quando o celular vibra às 08:00 da manhã com um simples desejo de bom dia!

Ainda ressaqueado do sentimento pela melhor amiga, ou no meio do tédio de ser sozinho fui caindo nas armadilhas de um novo amor, algo que jamais senti daquela forma ou pude provar antes.
Conheci um amigo na internet, papos sérios sobre a vida, sexualidade, casos e acasos, mas ficamos distantes um tempo retornando a amizade em fevereiro de 2012, um domingo chuvoso de carnaval onde ninguém saiu de casa e estávamos lá os dois falando sobre nós, as minhas descobertas feitas nos últimos tempos e as aventuras do meu brother incentivador. Eram 800 km de distância que não impediam a afinidade e vontade de "estar juntos" rindo, lamentando ou sempre inventando um novo papo. Ele sabia meus problemas, conflitos e a dificuldade gritante em relacionar afetivamente com alguém do mesmo sexo, mas sempre dava os melhores conselhos, levantava minha autoestima ou provocava para arriscar a felicidade. Assim foi durante um tempo, meu melhor amigo da web, dos encontros diários toda noite, que me fazia ir dormir com um sorriso nos lábios e aguçava a vontade de falar sempre cada vez mais. Passamos do msn para e-mails, troca de contato de celular, sms de bom dia, boa tarde, boa noite... até se tornar frequente, até eu me sentir incomodado na primeira vez que respondeu uma mensagem com um "bjão" no final. Bjão? Bjão não podia, ele era um homem, porque haveria de escrever bjão para outro homem? Fui levando, fui gostando, e essa felicidade que surgia toda vez que o celular vibrava me deixava incomodado, para mim era muito errado, era contra meus princípios. O que será que meu amigo queria? Porque enviava mais de 50 sms por dia? Porque meu coração vibrava mais que o telefone toda vez que o celular vibrava no bolso? Me tranquei no quarto, desmontei o aparelho e tirei o chip, a decisão era cortar ao meio com uma tesoura para nunca mais saber o contato, excluir contas na internet, me tirar de campo e tentar outro foco. Com o chip entre os dedos, olhando para o teto e me questionava: já fui tão feliz assim anteriormente? A resposta era não! A simplicidade dos gestos, o bom dia de cada manhã, a curiosidade em saber como eu estava, tudo aquilo despertada algo novo em mim, algo que nunca senti antes e que tirava minha paz, fazia o ar entrar pesado no pulmão, fazia as mãos suarem em bica quando trocamos algumas palavras pelo telefone, e a memória sorrir ao lembrar daquela voz com sotaque sulista.
Sempre achei desnecessário falar sobre o sentimento que estava surgindo, tinha medo de assustar, de afastar e de perder "tudo" aquilo que estava experimentando... era algo sem propósito, sem nexo, sem eira e nem beira... fui levando, cada dia mais focado, mais interessado e acreditava que eu era interessante pelo fato de ser um desafio, por deixar claro que nunca me envolveria sentimentalmente por um outro homem! Assim seguia, ele era o dono dos meus dias, do meu pensamento e dedicação exclusiva quando me masturbava, lembrando daquela voz, vendo as fotos recebidas... era tudo muito gostoso, o gozo era melhor e mais farto do que nas vezes que fiz sexo com uma menina, parecia que eu tinha 12 anos e estava descobrindo o mundo.
Eu era chamado de "meu mineirinho", "queridão", e outros tantos apelidos carinhosos, sempre usando o pronome possessivo. Ele só não sabia que eu já era dele, todo dele... de corpo e coração...


A primeira vez que ouvi essa música foi numa matéria de pedido de casamento exibida no Fantástico, estava na casa da vó rodeado por pai, mãe, vó e tia... caraca, quem compôs essa música? Quem estava ali cantando e falando por mim? Na mesma noite ao chegar em casa procurei a música e enviei, ele jamais sabia que era nossa música, que eu estava procurando um jeito de dizer que estava nas mãos dele, paralisado, disposto a largar tudo, a deixar a mente fantasiosa descansar e poder viver algo real. Esperei por tempos o convite de "vem agora", mas esse convite não vinha, ora porque tinha muito trabalho, ora porque largou o trabalho para viver do próprio negócio, ora porque a família não podia desconfiar de nada (isso tudo eram hipóteses). Mas eu estava ali, me fazendo presente, torcendo por cada vitória e cada sucesso que ele tinha. Ao contrário havia uma reciproca, eu nunca mais havia me sentido sozinho, eu tinha alguém que tinha curiosidade em saber se estava bem, se estava triste ou feliz... um conselheiro, que dava as melhores dicas, que sempre tinha razão e que se tornou minha referência... meu herói, o meu "queridão"...

Tudo aquilo me fazia bem até chegar o ponto de começar a sofrer nas vezes que o bom dia não veio, ou nas vezes em que a dedicação na empresa era tanta que dormia cansado e não enviava meu esperado boa noite de cada dia... e eu sofria, tinha medo de perder o que não tinha, de ser sozinho novamente... recordo com o coração apertado do final de semana em que não apareceu (veio um bom dia na sexta pela manhã, sem mais). Sexta, sábado, domingo! O que teria acontecido? Será que eu fiz algo? Conheceu alguém por perto? Qual era o problema? Aconteceu o pior? Me segurei para não ligar. Cansei de fingir que estava tudo bem comigo e depois de 2 dias me trancando no banheiro ou no quarto para chorar liguei... domingo a noite por volta de umas 23 horas e os dois números na caixa postal... perdi o chão, senti uma dor jamais experimentada, dor do abandono, fiquei ali deitado no chão de madeira do quarto soluçando, nariz entupido de tanto choro e a cabeça estourando... dormi assim e acordei pela madrugada, não tinha sono e muito menos paz... ah eu era louco, doente, um bobo carentão... Na segunda feira dormindo pela manhã ouço o celular vibrar e era ele dizendo que foi passar o fim de semana no sitio dos pais (que bom que estava vivo... esqueci todo o sofrimento dos últimos dias). Custava avisar que estaria num local sem área? Custava ter passado para falar que ficaria fora? Mas respondi como se nada estivesse me incomodando (sempre pelo medo de perder)... a cada sms recebida era como se renovasse um novo ciclo de comparecimento que uma hora ou outra podia se encerrar. Pensar no fim me fazia sofrer, e eu era cada dia mais inseguro, mais dependente e ao mesmo tempo feliz com o pouco que tinha!

Meu queridão me fez mudar sem nunca ter pedido ou insinuado nada, ele não sabia, mas estava cada dia mais magrinho, cada dia pegando mais pesado na academia para deixar forte as coxas que ele elogiava, cada dia querendo ser mais bonito pra ele, e ao mesmo tempo fui melhorando pra mim, traçando novos objetivos de vida, com vontade de ser tão sucedido e de alcançar meus sonhos! 

Paralelo a isto a vida foi chegando nos eixos, uma mudança de cidade a procura de novas e melhores oportunidades, estava agora na capital paulista, sozinho e levando apenas a vontade de vencer... nada foi muito fácil, longe da família e amigos, um lugar onde ninguém me conhecia, mas ele estava ali presente na tela do telefone... e agora encurtamos 400 km de distância, pra nada! A gratidão por todo incentivo e companhia eu sempre levaria comigo, mas queria mais, queria por fim sentir o cheiro da pele, a textura da pele, o gosto do beijo... tinha essa fixação, por isso morando na maior cidade do Brasil, onde tudo acontece, onde poderia ser livre, andava com uma venda nos olhos, só queria ele... mas um dia o amor esfria, as promessas não concretizadas (ou talvez a expectativa criada) vão ficando mornas, toma gosto de café requentado.
Eu amava, queria estar perto, quando dormia ouvia a voz no meu sonho, mas tudo foi ficando pequeno, queria uma atitude mas teria que propor... esta proposta veio e junto com ela o que eu mais temia: não fui deixado de lado, mas me fez um pedido de paciência porque era final de ano e as coisas estavam corridas, que um dia (sempre esse um dia) dá certo e nos vemos.


Pra mim não podia ser mais assim, era final do ano de 2013 e início de uma nova vida, a qual tive que arrancar de mim uma ilusão regada por quase 2 anos. EU QUERIA VIVER DE VERDADE!

2 comentários:

  1. Acho que todos nós já passamos por isso, algumas vezes... penso que para muitos, essa foi a principal forma, se não a única, de explorar um mundo novo da qual muitas vezes tinhamos medo.

    Apesar de toda a suposta frieza do meio, eu acredito que é possível sim estabelecer relações e conexões com as pessoas pelos meio digitais, o duro é que já entramos perdendo nesse jogo... Na maioria das vezes não temos "corpo" para o jogo e nossas expectativas estão muito altas.

    Muito legal teu texto, fico feliz com a ideia de que um dia alguém vai encontrá-lo e perceber que ele não é único a passar por isso...

    Abração.

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  2. Ja vivi algo semelhante. Foi tudo muito bacana, mas quando me dei conta da situação, notei que eu precisava viver o real deixando de lado a ilusão, pois foram anos vivendo de forma virtual, planejando o tal encontro e quando nos econtramos, não foi algo impactante.
    Mas todo risco é válido e negar uma paixão nem sempre é a melhor alternativa.
    Abraços!

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